Saudade animada


Tom Sawyer (1980)


Genérico Inicial






Como começar, quando se trata do Tom Sawyer? Quando éramos crianças, pouco importava quem eram os criadores dos desenhos animados, de que país vinham, ou mesmo se no futuro nos iríamos lembrar deles. Interessava somente absorver o máximo de cor, de magia, de paixão, a partir das nossas aventuras preferidas. E com Tom Sawyer, não se tratava somente de uma paixão. Era simplesmente a ponte para um mundo de descoberta, de movimento, num arrebatamento constante.

Sublinhar que se trata de uma série de 1980 demarca apenas a necessidade que temos de lapidar memórias a partir da sua génese. Trata-se do prazer que afaga a alma, quando reconhecemos dentro de nós uma memória reconfortante, incapaz de se perder no tempo, ou na montanha russa de acontecimentos.

A imagem que guardo da série é sempre a mesma, numa cadência estonteante. Tom Sawyer e Huckleberry Finn, no meio dos prados e da natureza, numa alegria a preço de saldo, alheios a qualquer palavra que tivesse minimamente a ver com a escola, a desfrutar o que era mais importante para eles. A amizade.

E a amizade era livre, parecia simples, tornava-se loucamente aditiva. Aquele plano final, sobre o rio Mississipi, com um barco lá ao fundo a passar devagarinho, nunca mais abandonou as minhas memórias. Um barco que representava a viagem, episódio após episódio, que eu fazia com eles, juntos, lapidando a imaginação, a infância, a inocência.

É difícil encontrar hoje algo que se assemelhe às valentes reguadas que Tom Sawyer levava, episódio sim, episódio também. Talvez hoje os pais redoma de vidro condenassem a emissão da série, salvaguardando a integridade dos seus rebentos. Afinal, sair da escola pela janela para ir brincar, não é algo aceitável, nem mesmo educativo. Ainda mais para ir ter com um sem abrigo, criança, sem pai e com uma propensão para a gandulagem. E reguadas, senhores japoneses, isso já lá vai! Anti pedagógico e altamente primário.

Mas todos nós vimos Tom Sawyer não vimos? Todos nós aprendemos com ele, defendemo-lo dos arrufos sistemáticos com a sua tia austera (como eu detestava aquela mulher!), acompanhando a sua paixoneta irresistível pela Becky.

Muitos delirámos com a reedição da série pelos bons amigos da New Age Entertainment. Alguns deles, certamente, sentiram igual prazer ao ter essa oportunidade, a de voltar a mostrar o perfume de uma vida simples, de criança. Com dificuldades, mas sempre, sempre mesmo, com muita humanidade.

E hoje somos doutores, não doutores, chefes e subalternos. Trabalhamos (quem tem essa fortuna), alguns de nós, vejam lá, já temos filhos. Somos adultos. Mas basta ouvir a música, somente a música, para vermos o barco lá ao fundo. Sentados, a olhar para o céu, a identificar as nuvens e as suas formas, temos ao nosso lado o amigo de sempre.


Info

As Aventuras de Tom Sawyer foi uma série de origem japonesa (1980) que passou na RTP1 (penso que na primeira emissão passava todos os dias a seguir ao almoço). A sua estreia portuguesa foi no ano de 1982. O genérico inicial tornou-se icónico, também devido à inspiração da música de Francisco Ceia.

Inspirada no famoso livro do escritor norte americano Mark Twain, a série apresentava as aventuras de Tom Sawyer, uma criança de bom coração (embora um pouco traquinas), que tinha como melhor amigo e companheiro de aventuras, Huckleberry Finn, uma criança sem abrigo que vivia sem família (tivera sido abandonada pelo pai). O próprio Tom tinha também perdido os seus pais, vivendo com uma tia um pouco retrógrada, e bastante austera. Estávamos em São Petesburgo, finais do Século XIX.


E de vez em quando, sabe bem, muito bem... regressar.


;)



Observação: Para quem deseja, mas deseja muito "regressar", aviso à navegação ; Os dvd´s editados pela New Age Entertainment possuem uma dobragem nova. Infelizmente a RTP desfez-se/perdeu a dobragem original. Esfuma-se um bocado do encanto, mas mesmo assim vale muito a pena. O genérico, esse, mantém-se imaculado.

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